Um adolescente comum
por Graziele Conceição
Chegando Bentinho à idade de doze anos, resolveu arrumar algum emprego para poder ajudar nas despesas da casa. Não encontrou problema em qualquer atividade que se lhe ofereciam. Trabalhou como “babá”, cuidando de algumas crianças da comunidade; fazia entrega de compras para um mercadinho; em uma fábrica de madeiras, era empilhador, serviço este que lhe custou muito, pois era um serviço bastante pesado; e, por fim, arranjou um serviço de comediante: vestia-se de palhaço e contava piadas. Seu nome neste ofício era: Chico Tramela.
Quando fez dezoito anos, queria muito servir o exército, mas sua mãe se opunha veementemente. Alegando ser viúva e sendo ele o seu filho caçula, no quartel conseguiu liberá-lo dos serviços obrigatórios da idade. Como ele insistisse muito, de contragosto, sua mãe acabou cedendo. Entrou no exército então com vinte anos. Logo, porém, adoeceu, e por isso foi muito perseguido lá dentro, pois seus superiores não acreditavam que estivesse doente e lhe davam as tarefas mais pesadas. Batiam-lhe contra a parede e lhe chamavam nomes feios, até que não suportou mais e caiu de cama, e nada mais lhe podiam fazer.
Neste estado, abandonado e maltratado, lembrou-se dos carinhos de sua doce mãe, sempre tão zelosa por seu filhinho. Pensou consigo, com os olhos cheios de lágrimas: “Meu Deus! Eu fui desobediente e só quis satisfazer a minha vontade. Minha querida mãezinha não queria que eu viesse para cá. Como não lhe dei ouvidos, deve ser por isso que sofro tanto aqui. Perdoai-me, Senhor! Daqui por diante tentarei ser mais obediente a Vós, que também através de minha mãezinha, me fala da Vossa Vontade. Amém.”. Recuperou-se, então, dos males que lhe atormentavam, e terminou seus serviços em paz. Contudo, seus dias no exército o tornaram um homem mais forte e experiente, que lhe serviu de lição para toda a sua vida.